terça-feira, 27 de fevereiro de 2024

Resenha do livro O cemitério dos vivos



Em "O Cemitério dos Vivos" conhecemos os pensamentos e reflexões de Vicente Mascarenhas, em sua última internação no Hospício Nacional para Alienados, ou Hospício da Praia Vermelha, localizado no Rio de Janeiro, onde ele viveu até sua morte. Apesar de não utilizar seu nome real, Lima Barreto utiliza sua vivência concreta para construir a história, baseada no diário que mantinha e em elementos de sua vida privada. 




Número de páginas: 240
Gênero: Clássico 
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Sinopse: 'O Cemitério dos Vivos' nasceu da experiência extrema de Lima Barreto no Hospital Nacional de Alienados, o velho hospício da Praia Vermelha onde esteve internado por duas vezes. Dividido em uma parte de memórias ('O Diário do Hospício') e uma tentativa de ficcionalizar essa vivência (no romance 'O Cemitério dos Vivos', que não chegou a concluir), o livro traz os relatos de seu segundo período de confinamento, iniciado no Natal de 1919, após uma noite vagando em delírio pelos subúrbios do Rio de Janeiro.




Depois de uma vida marcada pela loucura, primeiro o pai e depois a sogra, com desejos de reconhecimento por suas obras literárias e pouco dinheiro, Vicente Mascarenhas busca na bebida uma forma de afastar todas as preocupações que lhe cercam. A morte de sua mulher, com quem não conseguiu ter uma relação de intimidade, lhe causa um grande sofrimento que, somado ao alcoolismo, o levam a ter delírios e a ser internado no Hospício da Praia Vermelha.

Com uma história como essa, a primeira coisa que preciso dizer é que a loucura de Vicente Mascarenhas (ou Lima Barreto), se é que ela existe, não impediu a sua mente brilhante de se expressar. A narrativa é cheia de ironia e de ideias encadeadas que fazem com que seja impossível largar o livro por um tempo. Para mim, ele era um gênio.

Durante todo o livro, ele traz reflexões sobre tudo o que envolve o hospício: as formas de internação, as pessoas que são internadas, as subdivisões entre alas e entre classes, a relação com os internados, com os médicos e com os demais trabalhadores, até mesmo a estrutura do prédio é descrita com precisão.

Uma das críticas mais duras do livro é acerca da real função do hospício. Lima Barreto tece uma rede demonstrando o quanto a ciência pode ser mal utilizada quando suas explicações consideram o ser humano como um mero objeto de seus experimentos. Ele se ressente de ser visto como uma coisa a ser consertada e de ter sua vontade subjugada por médicos que não se dão ao trabalho de conhecê-lo ou de ouvi-lo. Ele também se ressente por achar (com certa razão) que não deveria ser internado só por seus episódios de delírios, que eram ocasionados quando estava embriagado.

Apesar disso, seu maior ressentimento é consigo mesmo, por não ter retribuído o amor e a compreensão da esposa. Durante o livro é muito tocante ver o quanto isso o afeta, um remorso profundo por achar que não soube apreciá-la como deveria. Vicente também expõe certo medo pelo filho, pois consideravam que a loucura era algo genético. Sobre essa questão da genética, ele chega a escrever que se esse fosse o fator que desencadeava a loucura seria preciso internar todas as pessoas, pois em todas as famílias haveria pelo menos um parente distante que seria tido como louco.

Acredito que a obra de Lima Barreto, por mais dura que seja, trouxe discussões importantes à sua época principalmente no que diz respeito aos critérios de internação de pessoas em manicômios e a forma como eram tratadas.

Um fato curioso é que em uma passagem do diário Lima Barreto escreve: “Um maluco vendo-me passar com um livro debaixo do braço, quando ia para o refeitório, disse: Isto aqui está virando um colégio”. Atualmente no território onde era o antigo Hospital Nacional para Alienados funciona um dos campus da Universidade Federal do Rio de Janeiro.


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Abraços 
Ana Luiza


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